Civilizações de conveniência
Surpreende-me, embora cada vez menos, que o argumento contra a noção civilizadora da "colonização" seja quase sempre defendido pelos que se escandalizam, ainda hoje, com algumas práticas culturais das antigas províncias. Vem isto a propósito de uma reportagem que a RTP1 passou esta noite sobre a "desumanidade" vivida no Quénia, particularmente por causa da excisão genital, elogiando os esforços para que certas tradições bárbaras cessem em África.
É evidente que essa luta é de louvar. O que não é de louvar é que aquele argumento contra a histórica acção civilizadora, bem como os seus pressupostos de igualdade entre civilizações, caiam por terra tão facilmente perante a demanda internacionalista dos Direitos. É incoerência a mais; o espelho das justificações contraditórias da modernidade.
Não seria natural que também protestassem contra a circuncisão masculina dos judeus, não fosse o ferro do anti-semitismo queimar-lhes o rabo? Em que é que a tradição da excisão feminina é pior? Na "conveniência"? Dá que pensar...