Domingo, 18.11.12

Morreu um mestre

Uma breve passagem em nova quebra de jejum blogosférico para fazer pública homenagem a Antoine Sibertin-Blanc, organista titular da Sé Patriarcal de Lisboa, falecido ontem vítima de doença prolongada. O músico francês é um dos grandes responsáveis pelo que de melhor se desenvolveu na música litúgica em Portugal despois do CVII. A escola de orgão pró-barroca que deixa no nosso país é uma das suas mais significativas contribuições nesse sentido. Tenho o privilégio de o ter conhecido pessoalmente e de manter amizade com alguns dos seus "filhos" e "netos". E são eles a principal esperança da música sacra portuguesa, contra as marés modernistas que se vão instalando por toda a parte...

 

Fica a saudade e a promessa do futuro.

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Sábado, 31.03.12

Gregoriano em Santo António

Agradável surpresa a de, por mero acaso, ir à Missa a Santo António, em Lisboa, e ouvir um coro gregoriano feminino - que, atendendo ao panorama nacional, me encheu as medidas. O Coro Solemnis apresenta-se com regularidade na igreja antoniana e faz valer a pena a deslocação para quem é de longe.

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Sexta-feira, 03.06.11

"Ascendit Deus"

Com pouco tempo para escrever, fica um contributo à "banda sonora" de Domingo próximo, por ocasião da Ascensão do Senhor: Ascendit Deus, antífona de Ofertório.

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Quarta-feira, 09.03.11

"Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris"


Gradual de Quarta-feira de cinzas: Miserere mei Deus.

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Sábado, 08.01.11

Baixo profundo da velha Rússia

A polifonia ortodoxa é das mais extraordinárias, não só pelo arranjo polifónico em si, mas pela tremenda exigência que requer aos cantores. Na Rússia, são famosos os "octavistas", que conseguem atingir notas uma oitava abaixo do normal, geralmente só possíveis em instrumentos. Este hino litúrgico é prova não só da genialidade russa, mas também da inigualável capacidade da voz humana. Interpretação fenomenal do The Orthodox Singers Male Choir.


 



We bow down before Your Cross. Music by P. Goncharov - During the celebrations of the Cross (Veneration of the Holy Cross the fifth Sunday of Lent and the Exaltation of the Cross on 14 September), this hymn replaces the Trisagion during the Eucharist and accompanies the faithful as they bow before the Cross. It's the only surviving composition by P. Gontcharov and dates from the second half of the 19th century. (fonte)


 










publicado por Afonso Miguel às 16:23 | link do post | comentar | comentários (1)
Quinta-feira, 06.01.11

A riqueza da liturgia tradicional - "Kyrie eleison"


 


Uma das consequências mais nefastas da invenção do Novus Ordo, fruto e prova da profunda ruptura que este trouxe e representa, é a diabolização do estudo pormenorizado e denso que a Igreja desenvolveu, ao longo de séculos, sobre a Liturgia. A "Missa nova", sendo um rito distinto e não apenas uma reforma do anterior (como em tempos se quis fazer crer), veio suprimir quase por completo a necessidade de uma formação profunda acerca dos conteúdos e das formas, bem como sobre a convivência da precisão teológica com a exactidão dos gestos e das palavras. O actual rito romano ordinário é, estruturalmente e por si só, bastante para que o sacerdote, munido do conhecimento das normas gerais e inspirado por alguma criatividade local, temporal ou pessoal, celebre "correctamente". A beleza celeste e universal da teatralidade litúrgica, resultado de anos de evolução e adaptação, dá lugar ao espectáculo privado da comunidade reunida.


 


Os seminários diocesanos são a grande sementeira desta amnésia forçada face a uma riqueza com quase dois mil anos de continuidade. Celebrado de forma singularíssima no grande Concílio de Trento, o tesouro impar da tradição litúrgica eclesial quase não é estudado para além da perspectiva histórica, como se o passado fosse ele próprio objecto de diabolização. E é esta, na verdade, grande parte do Cavalo de Tróia que entrou na Igreja. É o culto da modernidade...


 


Vem isto a propósito de uma série de características da liturgia tridentina que gostava de partilhar convosco, em jeito de reflexão sobre a qualidade extraordinária do rito latino "de sempre". Muitas já conhecerão e recordarão, outras serão novidade. Confesso que eu mesmo só tomei conhecimento do verdadeiro sentido de algumas há relativamente pouco tempo.


 


***


 


Kyrie eleison


 


O primeiro conjunto de características peculiares e esquecidas pela revolução do CVII diz respeito ao Kyrie eleison (Senhor, misericórdia!), parte do que hoje vulgarmente conhecemos por "Acto Penitencial". Esta prece terá sido adaptada da liturgia grega de Constantinopla nos séculos IV ou V. Mais tarde, o Papa São Gregório Magno, pai do canto gregoriano, reduziu-a no século VI a um conjunto de nove repetições, sendo que as três primeiras seriam dirigidas a Deus Pai, a quarta, quinta e sexta a Deus Filho, e as três últimas a Deus Espírito Santo. Assim, o corpo do Kyrie eleison passou a ser:


 


Kyrie eleison, Kyrie eleison, Kyrie eleison. Christe eleison, Christe eleison, Christe eleison. Kyrie eleison, Kyrie eleison, Kyrie eleison.


 


Recitado ou cantado (por exemplo, o da Missa VIII do Kyriale) imediatamente antes do Glória in excelsis (alternado entre o celebrante ou a schola cantorum e o povo), serve de oração penitente para os que se aproximam do altar do Senhor (Kyrie), cujo Filho unigénito (Christe) encarnou pela graça do Espírito (Kyrie). Três preces distintas, para cada uma das pessoas, também elas distintas, da Santíssima Trindade. E em cada uma delas a prece é tripla, como que significando novamente a Trindade divina, formando um só corpo, como Deus é um só.


 


É à presença de Deus que o sacerdote, restantes ministros sagrados e o povo se propõem chegar. A uma presença real, substancial, como aquela que viveu S. Pedro, o apóstolo que negou Jesus três vezes antes de este se entregar à morte, e dos três pecados se arrependeu. Desta forma, o Kyrie eleison pode assumir até um significado evangélico directo, reportado para a nossa vida, e para os pecados com os quais negamos o Salvador, o mesmo arrependimento petrino que é o de toda a Igreja. Fazemo-lo, igualmente, antes de Cristo se entregar por nós no santo sacrifício da Cruz, perpetuado no altar católico.


 


De outra forma vivem também os anjos na presença de Deus, glorificando-O e servindo-O sem cessar. São Tomás de Aquino, entre outros, ensina-nos, na Summa Theologica, que estes se dividem em nove coros angelicais: Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Virtudes, Potestades, Principados, Arcanjos e Anjos. Ora, estas divisões categóricas correspondem a acções específicas, como a dos Arcanjos, conhecidos como os mensageiros de Deus. Não por acaso, o "Senhor, misericórdia!" é repetido por nove vezes. No fundo, pode tratar-se de querer a expiação dos pecados para poder louvar a Cristo como e com os coros dos anjos, no Santus ("Quam laudant Angeli atque Archangeli, Cherubim quoque ac Seraphim: qui non cessant clamare quotidie, una voce dicentes: Sanctus, Sanctus, Sanctus"... ", Prefácio da Santíssima Trindade).


 


Mas uma das explicações mais interessantes sobre a estrutura do Kyrie eleison pode ser encontrada num livro do Padre James Luke Meagher, de finais do século XIX, onde é ligado, em quantidade, à qualidade dos pecados. Resulta nestas correspondências:


 


Kyrie eleison - Pecado original


Kyrie eleison - Pecado Venial


Kyrie eleison - Pecado Mortal


Christe eleison - Pecado por pensamentos


Christe eleison - Pecado por palavras


Christe eleison - Pecado por actos


Kyrie eleison - Pecado por malícia


Kyrie eleison - Pecado por fraqueza


Kyrie eleison - Pecado por ignorância


 


A oração Confiteor, que antecede o Kyrie eleison, refere precisamente alguns destes pecados: "... quia pecavi nimis cogitacione, verbo et opere".


 


Infelizmente, hoje o papel deste prece e das suas características teológicamente tão relevantes, é pouco apreciado. Muitos sacerdotes omitem-na pura e simplesmente, ou preferem adaptações que o Novus Ordo introduziu de forma a substituir a recitação do Confiteor. Uma consulta rápida ao ordinário da "Missa nova" revela até onde chegou a criatividade conciliar em relação ao Kyrie eleison.



publicado por Afonso Miguel às 21:31 | link do post | comentar
Quinta-feira, 08.07.10

"Corpus Christi Watershed"

Tenho seguido com muita atenção os projectos da Corpus Christi Watershed. Entre outras actividades, esta organização, nascida em 2006 no estado norte-americano do Texas, está a desenvolver um grande número de iniciativas na internet no sentido da promoção e divulgação do canto gregoriano e do canto litúrgico em geral. Uma delas é um portal que dá acesso a seis sites da Watershed, todos eles dedicados à liturgia, entre os quais dois onde encontramos o gregoriano das Missas dominicais de todo o ano, Novus Ordo (!) ou Usus Antiquor. Estão disponíveis em gravações audio MP3 e em vídeo, onde podemos acompanhar a pauta enquanto ouvimos os monges da Abadia de Notre Dame de Triors (beneditinos). Não faltam alguns acompanhamentos para órgão. No portal, existe ainda uma ligação para um sitio que apresenta gravações e acompanhamentos de todos os Kyriales (Kyries, Sanctus , Agnus Dei e Glorias), bem como dos Credos, antífonas da aspersão e do canto ad libitum. Mas não só! Se preferirem o Ordinário em vernáculo, a Watershed dá uma ajuda aos de língua inglesa, espanhola e portuguesa (!!).


 


Ou seja, bem explorado - e acreditem que isto é só um breve apanhado das coisas mais interessantes - trata-se de um verdadeiro manancial de informação e de oportunidades de aprendizagem, sendo talvez a melhor ferramenta online nesta área. Recomenda-se.

publicado por Afonso Miguel às 19:33 | link do post | comentar
Domingo, 13.06.10

6 órgãos da Real Basílica de Mafra

Os seis órgãos da Basílica de Mafra estiveram em restauro durante onze anos. O resultado está à vista.


 


Dois momentos de um dos concertos realizados em Maio:


 



















 


Organeiro Dinarte Machado fala do restauro dos seis órgãos, pelo qual está responsável:


 









publicado por Afonso Miguel às 22:08 | link do post | comentar | comentários (1)
Sábado, 12.06.10

Duas situações a merecerem análise no encerramento do Ano Sacerdotal

1 - Pela positiva, há que salientar o regresso da Marcha Silveri à liturgia Papal. Esta marcha era tocada nas antigas missas papais durante a elevação. Segundo o New Liturgical Movement, há décadas que não era ouvida em Roma, sendo mais um sinal positivo na chamada "reforma da reforma".


 


2 - São João Maria Vianney acabou por não ser proclamado patrono de todos os sacerdotes, contrariamente ao prometido. É um caso que está a gerar muita polémica e sobre o qual vale a pena ler o que escreve o Rorate Caeli (inclusive os comentários).

publicado por Afonso Miguel às 21:21 | link do post | comentar
Quinta-feira, 03.06.10

O que os olhos não vêem, a razão acredita

Sem tempo para escrever, deixo apenas o medievo hino de Corpus Christi de São Tomás de Aquino, que exalta o substancial da Fé eucarística que hoje celebramos: o transubstancial de Jesus Nosso Senhor, realmente presente nas aparências do pão e do vinho consagrados.


 



Pange, lingua, gloriosi
Corporis mysterium,
Sanguinisque pretiosi,
quem in mundi pretium
fructus ventris generosi
Rex effudit Gentium.

Nobis datus, nobis natus
ex intacta Virgine,
et in mundo conversatus,
sparso verbi semine,
sui moras incolatus
miro clausit ordine.

In supremae nocte coenae
recumbens cum fratribus
observata lege plene
cibis in legalibus,
cibum turbae duodenae
se dat suis manibus.

Verbum caro, panem verum
verbo carnem efficit:
fitque sanguis Christi merum,
et si sensus deficit,
ad firmandum cor sincerum
sola fides sufficit.

Tantum ergo Sacramentum
veneremur cernui:
et antiquum documentum
novo cedat ritui:
praestet fides supplementum
sensuum defectui.

Genitori, Genitoque
laus et jubilatio,
salus, honor, virtus quoque
sit et benedictio:
Procedenti ab utroque
compar sit laudatio.

Amen. Alleluja.


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Segunda-feira, 16.11.09

A Missa não é uma festa


A Magdalia escreveu um post sobre uma musiquinha que, em tempos, ouvia no novus ordo e que, desgraçadamente, não lhe saia da cabeça. Um cântico que até nem é dos piores, se comparado com o extenso rol de aberrações inventado depois do CVII.


 


É certo que muita e boa tradição se manteve, quer a polifónica quer a menos elaborada. Aliás, nada impede que a experiência musical na Missa de Sempre ultrapasse as barreiras do gregoriano, possibilidade que abriu portas a autênticos tesouros espirituais nesta área. Contudo, a herança que subsistiu dessas preciosidades é hoje escassamente executada. E se atentarmos à situação portuguesa, o cenário é muito entristecedor e preocupante.


 


Esta quase ausência de qualidade musical em Portugal deve-se, principalmente, a três factores que convém serem estudados, a fim de gradualmente corrigidos. O primeiro, à cabeça, é obviamente a introdução de estilos profanos na liturgia, resultado de um espírito protestante e tendencialmente herético. Em segundo lugar, a parca formação litúrgica dos cantores e organistas, acompanhada de um desconhecimento, por vezes quase total, de história da Igreja e de teoria musical básica. Em terceiro, a permissividade com a cultura do "desenrascaço", julgando-se bom serviço a Deus qualquer contribuição bem intencionada.


 


Como fundo obscuro destes problemas, subsiste um outro: a falta de preparação doutrinal dos intervenientes. Quem nunca ouviu afirmar que a Missa é uma festa, a festa do Senhor, e invocarem o Salmo 47 para justificarem "palmas" e manifestações desproporcionadas de "júbilo"? Quem não sabe também que essas afirmações vêm, não só dos impreparados "desenrascas" que actuam nas pequenas paróquias - actuar é, de facto, o verbo indicado para uma Missa que se transforma frequentemente em espectáculo de palco - mas também de inúmeros grupos de jovens, povoados de ignorantes e militantes de um espiritualismo a roçar qualquer coisa de budista?


 


Perante este cenário de descalabro, que não é nosso exclusivo nem único  mal a ser eliminado, a melhor resposta só pode ser a do Padre Pio:


 


P: Padre, como temos de participar na Santa Missa?


R: Como a Santíssima Virgem e as mulheres piedosas. Como São João assistiu ao sacrifício eucarístico e ao sacrifício cruento da Cruz.


 


Se partirmos desta premissa essencial, compreendemos tudo o resto e damos um passo significativo para a melhoria do canto litúrgico. No que nos compete enquanto tradicionalistas, devemos lutar cada vez mais para que se ofereça a Santa Missa Tridentina nas igrejas portuguesas, objectivo primordial da nossa acção. Sobretudo, trabalhar para que a Una Voce Portugal possa um dia ser uma realidade reparadora destas atrocidades sonoras.

publicado por Afonso Miguel às 22:19 | link do post | comentar | comentários (1)
Quarta-feira, 19.08.09

Grande entrevista a Domenico Bartolucci


Monsenhor Domenico Bartolucci dispensa grandes apresentações. É uma das colunas da resistência à queda do edifício eclesial, especialmente no que respeita à degradação, adulteração ou simples substituição da música sacra. Celebrizado enquanto mestre-escola da Capela Sistina e repetidamente homenageado por Bento XVI, dá uma entrevista brilhante, lúcida (tem 92 anos) e sem papas na língua onde, entre outras coisas, revela nunca ter deixado de celebrar o Rito Tradicional e fala sobre a "evolução" do canto litúrgico (com criticas a Solesmes).


 


Para ler na integra no Fratres in Unum (a tradução para português do Brasil é péssima mas lê-se; ver aqui o original).

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Segunda-feira, 03.08.09

"Omni die" a 4 vozes

Partilho convosco a partitura de uma versão coral do hino mariano "Omini die", atribuido a São Casimiro, que estou a ensaiar com um grupo de canto litúrgico. Requer quatro vozes mistas e execução célere e precisa, dispensando-se o acompanhamento instrumental do órgão. A quem tiver a pauta gregoriana, peço que a envie para o e-mail do blog.


 



(clique para aumentar)

publicado por Afonso Miguel às 20:51 | link do post | comentar
 

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