Quarta-feira, 25.06.14

De que forças necessitava Bento XVI?

Estamos certamente recordados do que declarou Bento XVI como motivo central da sua renúncia em 2013: a idade não o deixava mais capaz das forças e da vitalidade necessárias para continuar a missão petrina. E ainda hoje vislumbramos o "papa emérito" no registo fotográfico das visitas que recebe e espantamo-nos com o argumento. Não podemos deixar de questionar, inclusivamente, a razoabilidade das conclusões a que Ratzinger diz ter chegado sobre a sua saúde após profunda reflexão, sobretudo depois da aparição pública nas canonizações de João XXIII e João Paulo II.

 

O certo é que Francisco não aparenta estar melhor. O último indício foi dado no Corpus Christi, quando o Papa se recusou a acompanhar a tradicional procissão para, partindo de carro desde São João de Latrão, se dirigir ao ponto de chegada em Santa Maria Maior e aí dar a bênção final. As razões prenderam-se, segundo informou o porta-voz do Vaticano, com os próximos compromissos. Ou seja, participar daquela procissão, em que não teria sequer de percorrer o percurso obrigatóriamente a pé mas no veículo que leva a custódia, acabaria por deixar Francisco demasiado cansado para cumprir a sua agenda...

 

Perante isto, não temos como duvidar de que Bento XVI não se referia apenas às forças do corpo quando abdicou do trono de Pedro. O vigor necessário do espírito tê-lo-á de certa forma abandonado em virtude de circunstâncias ainda por esclarecer. Fossem as forças físicas as únicas imprescindíveis ao bom exercício do papado e o sofrimento de João Paulo II teria sido em vão ou, mais, em desfavor do bom governo da Igreja. Até porque, fisicamente, Ratzinger aparenta capacidades que o seu predecessor desejaria ter conservado até ao fim. O mistério é pois saber que fraquezas de alma fizeram com que o dia 10 de Fevereiro do ano passado ficasse na história como um dos mais inigmáticos em 2000 anos de Roma cristã.

publicado por Afonso Miguel às 22:29 | link do post | comentar
Sábado, 07.06.14

Catholica

Entra para a coluna de links a revista francesa Catholica, que venho seguindo há algum tempo e recomendo vivamente.

publicado por Afonso Miguel às 17:59 | link do post | comentar
Terça-feira, 03.06.14

Per obedientiam ad libertatem

No percurso cristão deparamo-nos, não raras vezes, com a dificuldade angustiante em encontrar a justa medida das virtudes que nos são propostas viver. Num mundo em que foram adulteradas por (pre)conceitos que lhes são tão estranhos como a distância da terra ao céu, nesse mundo arruinado por uma metafísica ideológica que se constitui como uma religião civil, é comum associarmos às virtudes cristãs determinadas práticas, modos e finalidades que em nada estão em acordo com a Fé ou concorrem para a acção do Espírito Santo.


A humildade, talvez a mais trucidada de todas, é vítima de uma barbárie que a transforma no seu contrário. Passou a ser compreendida como uma atitude tolerante, ou seja, como uma recusa definitiva da mais simples honestidade intelectual ou do respeito mínimo pelo conjunto de crenças em que tantas vezes fingimos enquadrar a nossa vida - e, consequentemente, por nós próprios -, em nome de um nivelamento subjectivista de tudo. É por isso que o diabo tem encontrado morada privilegiada neste cancro jacobino, que tem como única virtude, digamos assim, beber da contradição da tolerância de só se tolerar a si mesma como valor e fim absolutos.

Não é pois difícil de adivinhar o fanatismo humilde em que o modernismo mergulhou. Na Igreja, o espírito conciliarista de revolução litúrgica, o ecumenismo, o diálogo inter-religioso e a indiferença perante o falso, são o pináculo desta realidade. Sob uma capa de humildade, a tolerância iluminista - substituta da virtude cristã da paciência e a tal que só tolera o tolerante - cavalga na cartilha dos valores pós-VII para a primeira posição das mais elaboradas formas de dissimulação. O inimigo encontra nela bom terreno para espalhar o desprezo à própria Igreja e a toda a tradição católica, num movimento luterano de reforma intra murus.

O demónio esconde-se pois tão bem sob o véu da humildade quanto lhe é impossível fazê-lo sob o da obediência. E é precisamente por isso que, contrariamente ao que se pensa, um católico tradicional consegue amar tanto um modernista tresmalhado quanto este o odeia.

publicado por Afonso Miguel às 23:20 | link do post | comentar

Leitura

Excelente: "Ecclesia mutilans", de Miguel Ayres de Campos Tovar.

publicado por Afonso Miguel às 23:02 | link do post | comentar
Segunda-feira, 19.05.14

Decadência

Vivemos hoje no insólito de considerarmos um feto como não sendo humano e, ao mesmo tempo, aceitarmos que um desses seres não-humanos possa vir a nascer - já devidamente humanizado! - com órgãos genitais masculinos e ser contudo acreditado como mulher, ou vice-versa. Ou seja, até às doze semanas de vida, em Portugal e em virtude da nossa condição de vida intra-uterina, todos somos ET's, ao passo que uma mulher com testículos nos parecerá, cada vez mais, a coisa mais normal do mundo. Não por acaso, o homem barbudo travestido e convencido de mulher que venceu um concurso europeu de canções nos pode parecer ainda um pequeno ser alienígena bom para circo, fruto, quiçá, de uma qualquer rememoração da sua pretensa realidade inicial de extraterrestre.

 

O certo é que o aborto avança num infanticídio de fazer corar Herodes e a loucura da identidade de género infiltra-se na maior das condescendências com o absurdo. O conforto, ainda que demente, de podermos não ter de aturar uma gravidez e consequentes obrigações naturais da existência de filhos, em nome de uma sexualidade libertina e de um falso direito à propriedade sobre o outro, bem como o de podermos alterar a designação sexual conforme o apetite da mente, são o supra-sumo da construção do pensamento moderno. No fundo, caminhamos para um mundo em que não mais saberemos sequer o que é um homem e uma mulher, como os distinguir e como os enquadrar nos direitos que a dignidade da sua condição humana lhes deveria garantir. Remetendo essa capacidade básica, instintiva mesmo, para o campo da concepção social, ficamos à mercê do que um futuro incerto nos ditará ideologicamente sobre a matéria. A família como base da comunidade política, a própria natureza humana e todo um edifício de pensamento jusnaturalista e metafísico postos em causa pela insanidade positivista revolucionária.

 

Este movimento ideológico que se apoia em cavalos de batalha partidários e de discriminação e perseguição automáticas para quem recusa trucidar a lógica, nasce, não de uma incapacidade em si, mas de uma acção deliberada sobre a consciência moral dos povos. As constituições políticas, carentes de elementos metafísicos anteriores que lhes garantam critério seguro de bem e de mal, desprovidas dessa religação aos princípios iniciais tornam-se repositórios da ideologia. Facto transversal a já quase todo o ocidente europeu, acaba por criar sim, mas à posteriori, uma incapacidade generalizada para o pensamento descomprometido e essencial à busca da Verdade. Aliás, a ideologia não detona a metafísica em si, senão aquela devidamente religiosa. Antes a substitui por uma outra, sendo certo considerar que a dialéctica materialista assenta também ela em elementos de crença.

 

Nesse sentido, é curioso e importante notar a própria substituição da nomenclatura nessa nova metafísica, que a tenta aproximar, na aparência, de um sentimento natural e histórico do que é ser Homem. Esse sentimento, correspondente a uma lei anterior a qualquer constituição, ou seja, correspondente àquele critério de bem e de mal que Deus imprime como capacidade racional em todos os homens, vê-se, nem a propósito, travestido, para que a aceitação dos novos pressupostos morais da ideologia seja progressiva. A virtude moral da caridade é substituída pela solidariedade; a virtude moral da paciência pela tolerância; o dogma pela ditadura do relativismo…

Quando Bento XVI falava de valores inegociáveis - da família, da vida e da educação, esqueceu-se de referir que esse valores entram em confronto com outros que, parecendo subjectivos, são também eles inegociáveis para o mundo, porque também eles filhos de uma metafísica. E esse é o drama da contradição modernista que nos apresenta a tolerância - sobretudo a tolerância - como intoleravelmente inquestionável. A sua raiz protestante, que não admite a desobediência do ateu desligado de tudo e do católico montanista sempre ligado a Roma, está na base da falsa metafísica dos direitos humanos que, ultrapassando a obediência contemporânea da espada espiritual à temporal quer estabelecer na ONU uma latinização universal da liturgia progressista. Mais, quer fazer reconhecer nessa organização e nas instâncias internacionais congéneres substitutos daquela fonte de critério moral que a Igreja foi para a civilização. A mais recente ofensiva da ONU sobre o catecismo para que este mude, à força, a sua posição sobre o aborto é bem a prova disto.

Perante uma hierarquia eclesial que cala ou que, não raras vezes, se posiciona frontalmente contra a mais salutar doutrina católica, em sintonia com o espírito do mundo e suas premissas de pensamento, o que fazer? Diante da tentativa original de Lutero de reformar a Igreja que se repete agora com pele de cordeiro, como resistir? Estou certo, caros amigos, que à parte a necessária restauração litúrgica, já que dela emana todo o espírito cristão e que só por ele se renovarão todas as coisas, à parte isso é na família, também ela escola litúrgica privilegiada da oração comunitária, que está o grande reduto da Cristandade contra o insólito da irracionalidade. Evidentemente, é ela a grande atacada pelo aborto, pela ideologia de género, pelo divórcio, pela extinção do pudor e a normalização do sexo como vício, enfim, pela relativização dogmática da existência sobre a Terra. É pois nela que a fileiras de almas devem armar-se, quais catacumbas que manterão viva a Fé. Dela sairão também os novos sacerdotes da Verdade que, um dia, romperão as trevas do mundo. Só eles travarão, a seu tempo, a decadência natural de uma era de mentira caracterizada pela divinização de todos os pecados. O corpo voltará a obedecer ao Espírito nas leis dos povos.

publicado por Afonso Miguel às 23:21 | link do post | comentar | comentários (1)
Quarta-feira, 23.04.14

Espírito da Liturgia (II)

Mons. Guido Marini, in Liturgia Mysterium Salutis:

 

Há um direito do povo de Deus que jamais pode ser desatendido. Em virtude desse direito, todos devem poder aceder àquilo que não é simplesmente e pobremente fruto da obra humana, mas àquilo que é obra de Deus e, precisamente por isso, fonte de salvação e de vida nova.

publicado por Afonso Miguel às 12:06 | link do post | comentar

Espírito da Liturgia (I)

Mons. Guido Marini, in Liturgia Mysterium Salutis:

 

[...] não é difícil apercebermo-nos de como algumas maneiras de agir estão distantes do autêntico espírito da liturgia. Com efeito, por vezes, com o pretexto de uma pretensa criatividade, chegou-se e chega-se a baralhar de vários modos a liturgia da Igreja. Em nome do princípio de adaptação às situações locais e às necessidades da comunidade, arrogamo-nos o direito de tirar, acrescentar e modificar o rito litúrgico consoante a própria subjectividade e emotividade.

publicado por Afonso Miguel às 00:26 | link do post | comentar
Sábado, 12.04.14

Non praevalebunt!

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publicado por Afonso Miguel às 12:31 | link do post | comentar
Sexta-feira, 04.04.14

Deixem o Henrique Raposo ser uma pessoa normal

Não compreendo bem a indignação em redor de um "artigo de opinião" do Henrique Raposo, no Expresso, sobre um boato (tomou proporções) que implica um arcebispo espanhol. É um texto sobre a Igreja e a sexualidade baseado numa mentira, pela pena de um imbecil e publicado num pasquim que não faz mais do que o seu trabalho.

 

Qual é a novidade?! Por favor, deixem o Henrique ser uma pessoa normal.

publicado por Afonso Miguel às 01:44 | link do post | comentar
Quarta-feira, 02.04.14

Sentenças de morte...

publicado por Afonso Miguel às 23:50 | link do post | comentar
Segunda-feira, 31.03.14

Syllabus Errorum

Houvesse um sílabo de erros a ser respeitado na construção de igrejas e a de Nossa Senhora dos Navegantes, a novidade no Parque das Nações, seria uma belíssimo exemplo de tudo o que a arquitectura católica não deve ser. A par de aberrações como, entre outras, a Igreja do Sagrado Coração ou a Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Olivais, ambas em Lisboa, é este o mais recente mostrengo modernista da capital a fazer jus à institucionalização reinante da fealdade. Vista da Ponte Vasco da Gama assemelha-se a um mamarracho industrial inacabado, indigno da dedicação e das funções que lhe atribuem. Tinha eu reservas em viver em semelhante bunker de traça totalitária soviete, quanto mais em dedicá-lo a Deus. Mas o senhor Dom Manuel acha que está a condizer:

 

Lisboa, 31 mar 2014 (Ecclesia) – D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa presidiu este domingo à dedicação da igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, no Parque das Nações, e afirmou que o templo “condiz” com a “verdade da Igreja” pela sua configuração “essencialmente comunitária”.

 

“A verdade do templo é a verdade da Igreja e a Igreja é uma realidade essencialmente comunitária, com vários carismas dados a este e aquele, a esta e àquela para benefício do conjunto”, disse o patriarca de Lisboa à Agência ECCLESIA.

 

Para D. Manuel Clemente “antes de ir par ao templo material há a realidade eclesial que tem esta expressão plástica” e que neste caso “condiz” e “ quando condiz e dá um sentimento de integração, de certeza, dá força para a vida”.

 

Para D. Manuel Clemente, a paróquia do Parque das Nações é uma resposta ao apelo do Papa Francisco, que pede às comunidades cristãs para se organizarem e para contrariarem a “crise de compromisso comunitário”.

 

“Pelo facto de se reunirem na comunidade cristã, quer na dimensão sóciocaritativa, quer na catequese, quer na liturgia, nas instalações provisórias que tinham, tudo constitui uma rede que é hoje a rede social do Parque das Nações”, afirmou o patriarca de Lisboa após a celebração de dedicação da igreja de Nossa Senhora dos Navegantes.

 

Para D. Manuel Clemente, a paróquia do Parque das Nações “é um exemplo de como o culto cristão e a Igreja, pelo facto de ser assembleia, é um fator de união á sua volta, até para os que não são crentes ou cristãos”, sublinhou.

 

E não é que, vai na volta, tem razão! O pároco explica:

 

A igreja do Parque das Nações foi construída a partir da mensagem do II Concílio do Vaticano e os responsáveis não quiseram “impor figuras, nem modelos arquitectónicos”, mas “clarificar os modelos de Igreja” que pretendiam, disse à Agência ECCLESIA o padre Paulo Franco.

 

Para o pároco da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes foi apresentado “um programa iconográfico” que está centrado numa “igreja à luz e à imagem do II Concílio do Vaticano para responder à liturgia e ao modelo celebrativo” que a assembleia magna (1962-65) preconiza.

 

O projeto é da autoria do arquiteto José Maria Dias Coelho que, além de um complexo paroquial, se “centrou na construção de um templo, inspirado em Nossa Senhora dos Navegantes e nos Oceanos, que foi o tema da Expo 98, em cujo território nasceu a nova freguesia do Parque das Nações”.

 

Preparada para acolher quase 700 pessoas, a igreja apresenta “uma arquitetura circular, pensada e executada como casa e escola de comunhão”, onde “a disposição dos espaços e da assembleia, convergem para o que deve ser o seu centro: o altar, centro da ação Litúrgica da Eucaristia”.

 

“É impossível, neste espaço sem se sentir participante na própria liturgia” porque “quase que não há recanto para estar em silêncio, acrescentou o padre Paulo Franco.

 

Lex orandi, lex credendi.

publicado por Afonso Miguel às 22:46 | link do post | comentar

Vêm aí as europeias (II)

Recuperando um post de 2009:

 

publicado por Afonso Miguel às 22:36 | link do post | comentar
Sexta-feira, 28.03.14

Bento XVI, campanha, desinformação, ódio...

A ler: Odio Benedetto XVI

publicado por Afonso Miguel às 12:22 | link do post | comentar

"Fumo de Satanás"

Talvez Obama tenha ido explicar que deus é o dele.

publicado por Afonso Miguel às 02:09 | link do post | comentar
Quarta-feira, 26.03.14

Oração de D. Afonso de Santa Maria no seu 18º aniversário

Senhor Deus do Universo,
ao celebrar os dezoito anos da minha vida,
nesta terra que é a minha Pátria,
agradeço-Vos pelo Povo a que pertenço por inteiro,
e por toda a minha Família.

 

No meu sangue transporto a Missão de servir o bem comum.

 

Diante de Vós venho pedir o dom de, com a Vossa Graça,
corresponder ao que se espera de mim.

 

Dai-me, Pai de Misericórdia,
Sabedoria para intervir a favor dos mais fracos.

 

Iluminai os meus passos,
na fragilidade insegura dos tempos.

 

Fortalecei o meu ânimo,
na fidelidade criativa a que me inspirais.

 

Nesta terra de Santa Maria, ó Deus de bondade
eu vos confio a minha vida

 

Amen.

 

SAR o Senhor Dom Afonso de Bragança

Princípe da Beira, Duque de Guimarães.

Lisboa, 25 de Março 2014

 

***

 

Oração lida ontem na Missa de Acção de Graças pelos seus 18 anos celebrada na Igreja da Encarnação em Lisboa.

publicado por Afonso Miguel às 14:31 | link do post | comentar | comentários (2)
 

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