Segunda-feira, 31.03.14

Syllabus Errorum

Houvesse um sílabo de erros a ser respeitado na construção de igrejas e a de Nossa Senhora dos Navegantes, a novidade no Parque das Nações, seria uma belíssimo exemplo de tudo o que a arquitectura católica não deve ser. A par de aberrações como, entre outras, a Igreja do Sagrado Coração ou a Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Olivais, ambas em Lisboa, é este o mais recente mostrengo modernista da capital a fazer jus à institucionalização reinante da fealdade. Vista da Ponte Vasco da Gama assemelha-se a um mamarracho industrial inacabado, indigno da dedicação e das funções que lhe atribuem. Tinha eu reservas em viver em semelhante bunker de traça totalitária soviete, quanto mais em dedicá-lo a Deus. Mas o senhor Dom Manuel acha que está a condizer:

 

Lisboa, 31 mar 2014 (Ecclesia) – D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa presidiu este domingo à dedicação da igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, no Parque das Nações, e afirmou que o templo “condiz” com a “verdade da Igreja” pela sua configuração “essencialmente comunitária”.

 

“A verdade do templo é a verdade da Igreja e a Igreja é uma realidade essencialmente comunitária, com vários carismas dados a este e aquele, a esta e àquela para benefício do conjunto”, disse o patriarca de Lisboa à Agência ECCLESIA.

 

Para D. Manuel Clemente “antes de ir par ao templo material há a realidade eclesial que tem esta expressão plástica” e que neste caso “condiz” e “ quando condiz e dá um sentimento de integração, de certeza, dá força para a vida”.

 

Para D. Manuel Clemente, a paróquia do Parque das Nações é uma resposta ao apelo do Papa Francisco, que pede às comunidades cristãs para se organizarem e para contrariarem a “crise de compromisso comunitário”.

 

“Pelo facto de se reunirem na comunidade cristã, quer na dimensão sóciocaritativa, quer na catequese, quer na liturgia, nas instalações provisórias que tinham, tudo constitui uma rede que é hoje a rede social do Parque das Nações”, afirmou o patriarca de Lisboa após a celebração de dedicação da igreja de Nossa Senhora dos Navegantes.

 

Para D. Manuel Clemente, a paróquia do Parque das Nações “é um exemplo de como o culto cristão e a Igreja, pelo facto de ser assembleia, é um fator de união á sua volta, até para os que não são crentes ou cristãos”, sublinhou.

 

E não é que, vai na volta, tem razão! O pároco explica:

 

A igreja do Parque das Nações foi construída a partir da mensagem do II Concílio do Vaticano e os responsáveis não quiseram “impor figuras, nem modelos arquitectónicos”, mas “clarificar os modelos de Igreja” que pretendiam, disse à Agência ECCLESIA o padre Paulo Franco.

 

Para o pároco da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes foi apresentado “um programa iconográfico” que está centrado numa “igreja à luz e à imagem do II Concílio do Vaticano para responder à liturgia e ao modelo celebrativo” que a assembleia magna (1962-65) preconiza.

 

O projeto é da autoria do arquiteto José Maria Dias Coelho que, além de um complexo paroquial, se “centrou na construção de um templo, inspirado em Nossa Senhora dos Navegantes e nos Oceanos, que foi o tema da Expo 98, em cujo território nasceu a nova freguesia do Parque das Nações”.

 

Preparada para acolher quase 700 pessoas, a igreja apresenta “uma arquitetura circular, pensada e executada como casa e escola de comunhão”, onde “a disposição dos espaços e da assembleia, convergem para o que deve ser o seu centro: o altar, centro da ação Litúrgica da Eucaristia”.

 

“É impossível, neste espaço sem se sentir participante na própria liturgia” porque “quase que não há recanto para estar em silêncio, acrescentou o padre Paulo Franco.

 

Lex orandi, lex credendi.

publicado por Afonso Miguel às 22:46 | link do post | comentar
Terça-feira, 18.03.14

Património arquitectónico e artistico da Igreja em Portugal

Para conhecer as catedrais portuguesas, incluindo as antigas Sé de Elvas, Sé Velha de Coimbra e Sé de Silves:

 

publicado por Afonso Miguel às 19:48 | link do post | comentar
Sábado, 31.03.12

Arrepiante

A catedral de Madrid, terminada nos anos noventa e dedicada por João Paulo II, é uma mescla de estilos: fachada neoclássica e interior neogótico com vitrais de inspiração abstracta, pinturas de Kiko Argüello, talhas e peças de gosto duvidoso aqui e ali. Um conjunto que até acaba por ser interessante, sobretudo quando comparado com algumas aberrações que constituem a "arquitectura católica" moderna. Mas há um aspecto que me perturbou bastante quando a visitei pela última vez e que, até então, me tinha passado despercebido. Chamem-me picuinhas ou paranóico, mas é um pouco - como hei-de dizer? - esquisito ver simbologia satânica repetida numa série de capelas laterais de uma igreja. E nos dias que correm, e de tão explícito que é, arrepia...


 


publicado por Afonso Miguel às 14:33 | link do post | comentar
Quarta-feira, 12.05.10

Bento XVI em Portugal [VII] - liturgia em Lisboa


 


Não vale a pena discorrer sobre a dignidade litúrgica do palco que montaram no Terreiro do Paço. Não vale a pena lamentar o ambiente Rock in Rio que se viveu antes da Missa. Muito menos perder tempo a propósito da configuração maçónica da praça: a baixa de Lisboa é toda ela arquitectonicamente maçónica, desde o Parque Eduardo VII até ao Cais das Colunas, e "contra isso batatas". Interessa, sim, o que Bento XVI fez nesse contexto.


 


Há três coisas a realçar: a habitual disposição beneditina do altar (sete castiçais e cruz ao centro); os acólitos ceriferários e o diácono turiferário terem permanecido ajoelhados durante todo o Cânon (ver na foto); o Cânon ter sido integralmente recitado em latim.


 


Se há que fazer nota de alguma coisa, é da novidade tradicional do Santo Padre. Do resto estamos nós cheios.


 


***


 


Na impossibilidade de fazer um apanhado das palavras mais significativas de Bento XVI até agora, remeto para a selecção do amigo JSarto.

publicado por Afonso Miguel às 11:45 | link do post | comentar | comentários (1)
Quinta-feira, 29.04.10

"É necessário facilitar a celebração regular da missa tradicional"

Excerto de mais uma entrevista importante, concedida por Mons. Nicola Bux ao Padre Stefano Carusi, redator do Disputationes Theologicae, do Instituto do Bom Pastor. À atenção de todos os modernistas (via Fratres in Unum; os destaques a negrito são meus):


 



É importante que a Missa antiga — chamada também de tridentina, mas que é mais apropriado chamar “de São Gregório Magno”, como disse recentemente Martin Mosebach — seja conhecida. Ela tomou forma já sob o Papa Dâmaso e depois exatamente Gregório, e não São Pio V, que procurou reordenar e codificar, reconhecendo os enriquecimentos dos séculos precedentes e retirando o que havia de obsoleto. Esta missa, da qual o ofertório é parte integrante, é conhecida antes de tudo com esta premissa. Foram publicadas muitas obras de grandes estudiosos neste sentido e muitos se questionaram sobre a pertinência de reintroduzir o antigo ofertório, para o qual o senhor acena. No entanto, apenas a Sé Apostólica tem a autoridade para agir em tal sentido. É verdade que a lógica que se seguiu ao reordenamento da liturgia após o Concílio Vaticano II levou a simplificar o ofertório, pois se acreditava que ali devesse haver mais fórmulas de orações ofertoriais; agindo assim introduziram as duas fórmulas de benção de sabor judaico e foram mantidas a secreta transformada em oração “sobre as ofertas” e o orate fratres, e pensaram ser mais do que suficiente. Para dizer a verdade, esta simplicidade vista como um retorno à pureza antiga entraria em conflito com a tradição litúrgica romana, com a bizantina e com outras liturgias orientais e ocidentais. A estrutura do ofertório era vista por grandes comentaristas e teólogos da Idade Média como a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, que vai se imolar em oferta sacrifical. Por isso as ofertas já eram chamadas de “santas” e o ofertório tinha uma grande importância. A simplificação posterior da qual falei fez com que muitos hoje procurem o retorno das ricas e belas orações “suscipe sancte Pater” e “suscipe Sancta Trinitas”, só para citar algumas. Mas será através de uma maior difusão da Missa antiga que este “contágio” do antigo sobre o novo será possível. Portanto, a reintrodução da Missa “clássica”, se é que posso usar a expressão, pode constituir um fator de grande enriquecimento. É necessário facilitar a celebração regular em dias de festa da missa tradicional ao menos em cada catedral do mundo, mas também em cada paróquia: isso ajudará os fiéis a conhecer o latim e a se sentir parte da Igreja Católica, e praticamente os ajudará a participar da missa nos encontros em santuários internacionais. [...]


 


[...]  [O homem] deve, antes de tudo, poder encontrar na Igreja aquilo que é a definição por excelência do sagrado: Jesus Eucarístico. O tabernáculo deve voltar ao centro. É verdade, historicamente, nas grandes basílicas ou nas catedrais o tabernáculo era em capelas laterais. Sabemos bem que, com a reforma tridentina, preferiu-se recolocar o tabernáculo no centro, também para combater os erros protestantes sobre a presença verdadeira, real e substancial do Senhor. Mas também é verdade que hoje a mentalidade que nos circunda não só contesta a presença real, mas contesta a presença do divino. Na religião, naturalmente, o homem procura o encontro com o divino, mas esta presença do divino não pode ser reduzida a algo puramente espiritual. Esta presença é “palpável” e isso não se faz com um livro, não se pode falar de presença do divino apenas nos termos relativos às Sagradas Escrituras. Certamente, quando a Palavra de Deus é proclamada, é justo falar da presença divina, mas é uma presença espiritual, não a presença verdadeira, real e substancial da Eucaristia. Daí a importância do retorno à centralidade do tabernáculo e, com isso, à centralidade do Corpo de Cristo presente. O lugar central não pode ser a cadeira do celebrante, não é um homem que está no centro da nossa fé, mas é Jesus na Eucaristia. Caso contrário, termina-se por comparar a igreja a um auditório, a um tribunal deste mundo, no centro do qual se senta um homem. O sacerdote é ministro, não pode ser o centro, o centro é Cristo Eucaristia, é o tabernáculo, é a cruz.


publicado por Afonso Miguel às 00:15 | link do post | comentar
Quinta-feira, 27.08.09

Ouvido hoje na barbearia

"Dizem que aquela coisa em Fátima é uma igreja para o futuro, mas eu não vejo ali igreja nenhuma. Para mim, aquilo é mais um anfiteatro para espectáculos. Não lhe deviam chamar igreja, porque não é".

publicado por Afonso Miguel às 18:58 | link do post | comentar | comentários (1)
Terça-feira, 25.08.09

Ir a um festival de verão e não saber













Faz menos de uma semana que, ao entrar em Fátima, tive aquela sensação única de estar a imergir num dos raros ambientes minimamente saudáveis que ainda se respiram em Portugal. Digo saudáveis no sentido de podermos andar de Terço na mão em plena rua, ou mesmo com uma t-shirt a dizer "Viva Cristo", que ninguém nos chateia a cabeça nem deita olhares de gozo e reprovação por causa disso. Como também ninguém estranha se estivermos numa mesa de café a falar de "assuntos de Igreja" enquanto bebemos umas loiras, ou se rezarmos nos restaurantes antes das refeições. Pena só que, quanto ao resto, Fátima já tenha vivido melhores dias.


 


Há muito tempo que não punha os pés no Santuário. Como sempre, a primeira coisa que fiz foi dirigir-me à Capelinha para "cumprimentar" Nossa Senhora, rezar um pouco, meditar no que Ela ali disse. Mas fiz mal. Quando cheguei, deparei-me com um senhor a bater palmas junto ao altar, enquanto um grupo de jovens cantava qualquer coisa semelhante ao "parabéns a você" ao som de violas. Só depois percebi que era o Sanctus e que devia estar metido numa moderna Celebração Eucarística, embora tenha ficado com dúvidas. Pelo sim pelo não, orei em acto de reparação e pus-me a milhas...


 


De noite, já meio esquecido do sucedido à tarde, fui à recitação do Terço, também na Capelinha. Meditaram os, igualmente modernos, mistérios luminosos. Para disfarçar, disseram umas coisas em latim, para logo em seguida as repetirem em mil e uma línguas, tantas quantas as peregrinações anunciadas vindas de todo o mundo. E cada um respondeu depois na sua, uns em português, outros em brasileiro, e ainda outros em francês, inglês, polaco (sempre o polaco!) e até em árabe... Russos, esses é que nem vê-los. Aliás, não me recordo de alguma vez ter visto russos em Fátima, pelo que Nossa Senhora deve andar a perguntar-se o que raio falhou na mensagem que deixou aos pastorinhos. Mas adiante. A saga do Terço continuou, agora com toda a gente feliz e contente por ter podido gritar qualquer coisa em vernáculo enquanto se agitam umas bandeiras e uns cartazes. E não é que, já lá mais para o fim, um padre Iraquiano foi mesmo dizer dez vernaculíssimos "assalamalecuns" à filha de Maomé, isto é, à Senhora Nossa Mãe! Achei fantástico, e mais fantástico achei que no término tivessem exposto o Santíssimo Sacramento e só vinte ou trinta pessoas se tenham dignado a flectir o joelho perante a presença substancialmente real de Jesus Cristo. Repetidas as dúvidas da tarde, orei novamente em reparação e fui dormir…


 


Deixei passar a noite e, no dia seguinte, dirigi-me ao outro lado do recinto. Queria ir visitar  pela primeira vez o famoso e recente centro multiusos da Santíssima Trindade, carinhosamente apelidado de ETAR, bunker, nave espacial, lixeira e etc., para confirmar com estes olhos que a terra há-de comer por que raio ninguém gosta daquilo e corre em Fátima o inominável boato que insinua tratar-se de um pecaminoso capricho do antigo reitor. Pois deixem-me dizer-vos que, depois de ter inspeccionado bem o local, adorei tudo, especialmente aquelas redes que enfeitam a entrada principal, transformadas em ponto de crendice e superstição de quem lhes atira moedas a ver se realiza desejos. Devo aliás advertir o Santuário que já lá deve estar para cima de um milhar de euros, pelo que não sei se os habituais carteiristas não estarão à espera que o pote rebente... Dentro de portas então, fiquei maravilhado! Que espaço amplo, que perfeita visão do palco, que funcionalidade, que arte tão agradavelmente abstracta!!! Imaginei logo belos congressos - talvez quem sabe ao velho estilo soviético - grandiosas conferências, concertos, enquanto os visitantes tiravam fotografias em grupo, com poses e línguas de fora e tudo o mais de fora... Só achei estranho haver uma cruz vermelha no chão a cada quinze passos que dava, mas deve ser uma daquelas manias de artista consagrado. De resto, até o facto das casas de banho estarem a dois metros das "entradas laterais" é sublime!


 


Vinha eu pois espantado com tanta perícia arquitectónica, tanta visão, tanto alcance, quando esbarro com um velho amigo que tinha acabado de chegar e se dirigia à Capelinha, trajando calções de banho e chinelos de praia. Entre abraços e vivas, perguntou-me logo se tinha ido ver a igreja nova mas, como não tinha vislumbrado igreja nenhuma naquela zona, fiquei a perceber que ainda havia algo a ser visitado mas que tinha de ficar para a próxima. Já o meu amigo é que tem sorte: naquela altura não havia ninguém a comemorar aniversários e, sobretudo, ele conhece uma igreja que, aparentemente, ninguém me sabe dizer onde está (e até pode ser que se desfaça o tal boato, caso a encontrem)...


 


Dito isto, continuei com dúvidas e com dúvidas vim. Afinal estive em Fátima ou em Paredes de Coura?...

publicado por Afonso Miguel às 14:57 | link do post | comentar | comentários (9)
Sexta-feira, 07.08.09

Espaço Sagrado [II]

Não, não me esqueci do prometido: elencar uma série de alterações que o templo sofreu, vítima da euforia litúrgica do CVII. Dessas alterações, a primeira a ser tratada prende-se com uma modificação, ou melhor, uma extinção quase total de algo que os católicos de hoje não sabem mais para que servia e de que forma mantinha bem ordenado o espaço sagrado: a balaustrada. Depois, abordarei algumas questões ligadas ao altar, ao púlpito, ao baptistério e ao confessionário, de entre outros elementos que o modernismo fez propositadamente esquecer...

publicado por Afonso Miguel às 18:33 | link do post | comentar
Terça-feira, 28.07.09

Espaço Sagrado


Há dias (num repasto que muito agradeço a um grande amigo, quer pela comida e a bebida em si quer pelo sempre excelente convívio e hospitalidade) foi-me apresentada uma revista francesa que dá pelo nome de Catholica (não consigo encontrar nada na internet sobre a mesma!). Escusado será dizer que se trata de uma publicação de enorme qualidade, forte espírito tradicional e anti-modernista, com artigos que misturam política e religião, numa saudável tentativa de conceder uma maior abrangência à análise de determinados temas.


 


Nela, li parte de uma entrevista muito interessante que abordava a questão da modificação do espaço sagrado ao longo dos tempos, especialmente depois do CVII, e suas implicações na vida comunitária da cidade, na sua noção da dogmática do transcendente e vivência experimental da liturgia enquanto catequese e fonte de Salvação. Não tendo conseguido terminar a leitura pela imposição horária do início do jantar, ficaram-me contudo na ideia algumas considerações que gostava de partilhar convosco, em jeito de identificação dos principais problemas sobre a actual disposição das nossas igrejas.


 


Brevemente...


 


***


 


 


Actualização:


O António teve a amabilidade de me enviar o site da revista; a entrevista de que falo é esta: "L' espace liturgique retourné"; por sorte, alguns dos artigos e entrevistas são publicados online, na integra, e valem muito a pena; existem ainda uma secção de dossiers, outra de recensões críticas e também uma de internacional.

publicado por Afonso Miguel às 19:28 | link do post | comentar | comentários (2)
 

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