De que forças necessitava Bento XVI?
Estamos certamente recordados do que declarou Bento XVI como motivo central da sua renúncia em 2013: a idade não o deixava mais capaz das forças e da vitalidade necessárias para continuar a missão petrina. E ainda hoje vislumbramos o "papa emérito" no registo fotográfico das visitas que recebe e espantamo-nos com o argumento. Não podemos deixar de questionar, inclusivamente, a razoabilidade das conclusões a que Ratzinger diz ter chegado sobre a sua saúde após profunda reflexão, sobretudo depois da aparição pública nas canonizações de João XXIII e João Paulo II.
O certo é que Francisco não aparenta estar melhor. O último indício foi dado no Corpus Christi, quando o Papa se recusou a acompanhar a tradicional procissão para, partindo de carro desde São João de Latrão, se dirigir ao ponto de chegada em Santa Maria Maior e aí dar a bênção final. As razões prenderam-se, segundo informou o porta-voz do Vaticano, com os próximos compromissos. Ou seja, participar daquela procissão, em que não teria sequer de percorrer o percurso obrigatóriamente a pé mas no veículo que leva a custódia, acabaria por deixar Francisco demasiado cansado para cumprir a sua agenda...
Perante isto, não temos como duvidar de que Bento XVI não se referia apenas às forças do corpo quando abdicou do trono de Pedro. O vigor necessário do espírito tê-lo-á de certa forma abandonado em virtude de circunstâncias ainda por esclarecer. Fossem as forças físicas as únicas imprescindíveis ao bom exercício do papado e o sofrimento de João Paulo II teria sido em vão ou, mais, em desfavor do bom governo da Igreja. Até porque, fisicamente, Ratzinger aparenta capacidades que o seu predecessor desejaria ter conservado até ao fim. O mistério é pois saber que fraquezas de alma fizeram com que o dia 10 de Fevereiro do ano passado ficasse na história como um dos mais inigmáticos em 2000 anos de Roma cristã.